It's not about bad weather, it's about suitable clothing

by Sónia Abrantes


Foram realmente estas as palavras que permaneceram desde o primeiro dia na minha cabeça para compreender o sistema educativo na Finlândia, a forma de estar e as diferenças culturais.

O motivo que me levou a candidatar à mobilidade enquanto docente em formação no âmbito do projeto Erasmus prendeu-se com o facto de a mesma representar uma oportunidade de me capacitar enquanto docente do CEI, indo ao encontro da missão do colégio enquanto escola que prepara os alunos para contextos de trabalho e formação flexíveis, atuais, nacionais e internacionais, de acordo com a realidade da sociedade global em que vivemos. Este motivo profissional aliou-se ao motivo pessoal de continuar a aprender e melhorar o meu dia a dia e a minha prática pedagógica. Estas foram as minhas expetativas iniciais e que por fim foram satisfeitas.

A escolha do curso "Learning Outside the Classroom in Finland" teve como objetivos melhorar e fundamentar a compreensão sobre a aprendizagem ao ar livre e os seus benefícios e conhecer os diferentes métodos de educação ao ar livre no contexto da Finlândia de modo a conseguir transpor para o contexto do CEI. Tinha a expetativa de desenvolver os conhecimentos e competências necessários para a educação ao ar livre adaptado ao contexto de turma e conteúdos programáticos, experimentar e praticar atividades práticas ao ar livre e conceber, planear e partilhar atividades de educação ao ar livre. No final desta semana de formação, consegui atingir os objetivos propostos, juntamente com os meus colegas do curso dos vários países.

Mas como conseguimos isto tudo?

Em apenas seis dias na cidade de Helsínquia tivemos um belo dia de sol, um dia de muito frio sem sol, um dia com neve fofa a cair sem vento, outro dia com sol mas com tudo coberto de neve, outro dia de neve e vento muito frio e o último dia com temperaturas tão baixas que os pés deixaram de se sentir. Nenhuma destas condições climatéricas, em todos os dias diferentes, alterou o programa e mantivemos sempre os planos com as atividades outdoor e indoor, sem ajustar sequer às melhores condições climatéricas os dias outdoor. Isto demonstrou uma grande diferença entre os povos, espelhando que uma boa preparação leva a atividades igualmente boas.

Começamos com atividades de interior simples de teambuilding para que o grupo se conhecesse e criasse um sentido de grupo. A apresentação começou com a dinâmica já muito conhecida de nos apresentarmos com a ponta de um novelo de linha na mão e passarmos esse novelo a outra pessoa para que se apresente também. Esta dinâmica fez com que no final todos nos sentíssemos conectados pelo mesmo fio condutor, cada um com as suas características. De seguida, cada escola apresentou a realidade do seu contexto escolar e também a sua escola. Esta partilha levou-nos a conhecer realidades de cidades e escolas até então desconhecidas. Mais que isso! Deu-nos oportunidade de perguntar aos próprios mais sobre a sua cultura, realidades e formas de estar. Cultivamos assim o sentido de grupo de uma Europa que é de todos nós.

Figura 1 - Atividade teambuilding


Com temperaturas negativas, fizemos uma visita a pé pela cidade de Helsínquia, que nos abriu os olhos para a realidade de que mesmo estando mau tempo, a vida continua, só temos de nos ajustar.

Um método recorrente desta formação foi o trabalho e debate em pequeno grupo e posterior apresentação ao grande grupo. Um dos casos foi o desafio de identificarmos as possibilidades e os desafios das aprendizagens outdoor, as coisas que potencializam as atividades outdoor e as coisas que as dificultam. Os grandes desafios resumiram-se à falta de espaços perto da escola para alguns países e à não concordância das famílias quanto a atividades que saem mais da zona de conforto dos filhos. Foi uma atividade bastante interessante que devemos procurar realizar com frequência sempre que escolhemos uma metodologia diferenciadora, como é o caso das atividades outdoor, de modo a avaliar se faz sentido ou não determinada atividade, de modo a perceber o que devemos fazer para alterar possíveis obstáculos, tais como a falta de preparação dos professores e a falta de hábitos rotineiros dos alunos.

Figura 2 - Atividade de debate em pequeno grupo

Mesmo com a neve a cair, banhando de branco todo o nosso cenário, visitamos a biblioteca Oodi onde realizamos um pedipaper online e exploramos muitos dos espaços. Nesta biblioteca a utilização de tudo é gratuito e para qualquer pessoa, mais uma vez, numa pespetiva de que a educação é para todos. Visitamos também o museu da cidade de Helsínquia onde realizamos dinâmicas de pares para a exploração do museu. Estas ideias práticas do que fazer quando saímos da sala e como podemos potenciar o local que visitamos diz-me muito pois sou adepta de aproveitar cada experiência como um momento de aprendizagem. Apresentaram-nos o conceito de que a educação outdoor, como é praticada na Finlândia, que inclui atividades dentro de espaços públicos, como museus e bibliotecas, e não obrigatoriamente apenas o espaço exterior e com a natureza.

Figura 3 - Visita à biblioteca Oodi, espaço de trabalho


No quarto dia continuamos em atividades outdoor realmente no exterior, na ilha de Mustikkamaa, desta vez com sol. Fomos e viemos de comboio, na ilha realizamos tarefas com recurso a uma plataforma online com tarefas idealizadas pela formadora, mas também atividades de reflexão sem recurso à tecnologia, apenas a aproveitar a natureza. Mais uma vez, o caráter prático prevaleceu, demonstrando que, mais do que alguém nos explicar como se faz, fazermos nós próprios torna realmente a aprendizagem significativa. De tal modo que ficamos convencidos de que parece fácil de implementar. Resta-nos ajustar ao nosso contexto.

Figura 4 - Atividade outdoor de Mindfulness, "Hug the tree"

Tivemos também a oportunidade de planear atividades no contexto do nosso colégio, seguindo a estrutura que nos foi proposta, identificando os arredores/comunidade local, aspetos de segurança, recursos disponíveis, objetivos, temas/disciplinas que fazem sentido neste modelo, e as necessidades da turma.

Nos cursos profissionais confrontamo-nos com falta de motivação por parte dos alunos, a que eu associo à falta de caráter prático dos conteúdos abordados, por exemplo, a disciplinas como Física e Química. Assim, uma das propostas para aplicar os conhecimentos adquiridos foi exatamente sobre os módulos de Física, como o Som para o 1º ano do Ensino Profissional. Como o CEI está repleto de locais outdoor, desde os campos de jogos, horta, zonas das árvores, e as próprias salas de várias idades, num dos planos já incluímos esta dinâmica em colaboração com os alunos dos 5 anos, que também poderão aprender fora da sua zona de conforto.

Figura 5 - Planeamento para atividades outdoor

Como resultado da minha participação nesta atividade de mobilidade fiquei a conhecer melhor o modelo educativo finlandês que tem por lema “Escola para todos”. Segundo os finlandeses, só são uma sociedade completa e economicamente viável se cada um encontrar o seu potencial, daí um ensino com currículo pré-definido mas com espaço e tempo para cada aluno explorar o seu potencial com atividades práticas para saber o que se quer no futuro profissional. Compreendi também que, tal como em Portugal, o ensino é inclusivo, ou seja, os alunos com necessidades educativas especiais estão incluídos nas turmas, há exceção de necessidade educativas especiais severas. Mas, muito diferente de Portugal, a acessibilidade à educação apenas é garantida pela gratuitidade da escola, materiais, almoço e transporte, para estudantes de qualquer zona do país ou condição económica. Outra grande diferença é o facto de não terem momentos de avaliação a nível nacional, só apenas no final no último ano. Até lá, regem-se pela síntese individual onde está explicado se o aluno cumpre ou não cumpre os objetivos propostos para o nível de ensino que termina, prosseguindo para o seguinte quer cumpra ou não cumpra.

Este curso foi uma excelente oportunidade para praticar outras línguas, como o inglês, o espanhol e o alemão, pois acabamos por conviver com professores de outros países cuja vontade de partilha é tanta ou maior do que a nossa. Também me deu oportunidade para criar sinergias entre escolas e outros parceiros a nível europeu, talvez num futuro.



Figura 6 - Atividade outdoor de reflexão sobre um tema

Tanto as dinâmicas de grupo da formação como a necessidade de potenciar os tempos sem formação em partilha com as colegas Professoras, desempenharam um papel fundamental para o desenvolvimento de competências de trabalho colaborativo e fomentou o trabalho de equipa. Tive a sorte de ter esta experiência com duas Professoras que partilhavam comigo a curiosidade e a vontade de aprender para levar para a nossa terra o melhor que conseguirmos. Obrigada às professoras Cristina e Jacinta!



Figura 7 - Equipa de professoras

Resta agora aplicar o que se adequa à realidade de Portugal para que o CEI continue a prestar uma educação de excelência e com olhar sempre no futuro dos nossos alunos.

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