LEARNING OUTSIDE THE CLASSROOM IN FINLAND


by Cristina Serpa


Entre os dias 1 e 6 de Abril, foi-me dada a oportunidade de participar na formação: Learning Outside the Classroom, em Helsínquia.

Com alguma ansiedade, mas na expetativa de que regressar, trazendo na bagagem competências e estratégias para aplicar em contexto de trabalho, lá parti nesta aventura.

Tendo a Dr.ª Jacinta e a Prof. Sónia como colegas de viagem, formação e aventuras pela Finlândia, destaco aqui o papel das duas na organização da nossa “Tour” por Helsínquia, nos momentos que tínhamos livres.


Contabilizados, no fim da semana, foram muitos os quilómetros que fizemos, ora para conhecer os lugares mais caraterísticos que haviam sido assinalados previamente no mapa, ora para degustar alguns dos pratos típicos dos Finlandeses como é o caso da sopa de rena e de salmão. Conhecer um pouco da cultura Finlandesa também era nosso objetivo, por forma a percebermos porque é considerado o país mais feliz do mundo, título atribuído pelo 7º ano consecutivo pela World Happiness Report.

Uma das primeiras coisas que fiquei a saber acerca da Finlândia foi que as saunas são o ex-libris dos Finlandeses, sendo frequentadas regularmente pela população e também por quem visita o país.

Apesar do frio, da neve e da chuva nada nos deteve e fomos conhecer e explorar quer a cidade de Helsínquia, quer algumas ilhas e espaços culturais. Quando regressei a Portugal perguntaram-me o que mais gostei em Helsínquia e não foi difícil para mim responder. Existem espaços e momentos que se eternizam na nossa memória pelas sensações que nos proporcionam. A Rock Church, esculpida na rocha é qualquer coisa de espetacular, o órgão de tubos é lindíssimo. Ter o privilégio de assistir, naquele espaço, a um concerto com uma orquestra, uma solista e um coro foi a cereja no topo do bolo.

A Biblioteca Central de Helsínquia, Oodi, está localizada em frente ao Parlamento, no centro da cidade, foi outro dos edifícios que mais gostei de visitar. Pelo conceito, pela versatilidade de atividades/espaços que acolhe e pela sua arquitetura. Uma prenda do Governo por forma a assinalar os cem anos da independência da Finlândia. Foi pensada para que todos os cidadãos pudessem usufruir dos diferentes espaços. Não consigo precisar quantas pessoas estariam na Oodi quando fizemos a visita, mas distribuídas pelos três pisos muitas dezenas de pessoas lá se encontravam, quer a visitar, quer a trabalhar. As crianças entravam com os professores de forma organizada e sem grande alarido. Todas equipadas com os fatos próprios para a neve, ocupavam o espaço a elas destinado, onde lanchavam, brincavam, jogavam ou simplesmente exploravam os livros. O seu barulho não interferia com as leituras ou trabalhos de grupo que decorriam do lado oposto da Biblioteca devido ao sistema de insonorização que a biblioteca dispõe.

Alguns deitados, outros sentados nos cadeirões, voltados para a vidraça que dava para a Praça, com a neve a cair e a disfrutarem das suas leituras, todos usufruíam do espaço de forma descontraída mas respeitando quem lá estava.

No segundo piso, senhoras costuravam, usufruindo das máquinas que se encontram à disposição de quem precisa, salas de jogos, de gravação, uma cozinha para quem precisar utilizar, salas de reuniões, espaços para impressões, sala de cinema, salas para explorarem instrumentos musicais. Um espaço pensado para todos para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades independentemente da sua condição social.


O curso:

Croácia, Espanha, Alemanha, Grécia, Malta e Portugal eram as nacionalidades presentes na Formação. Após apresentação dos formandos e das respetivas escolas ficámos a conhecer rotinas e métodos de trabalho adequados às realidades socais, económicas e educativas dos diferentes países. Tendo em conta a apresentação feita pelos participantes pudemos constatar que em Portugal as crianças passam mais horas diárias na escola em comparação com os restantes países, o que indica que passam menos tempo a disfrutar de momentos passados em família.

Mia Tortilla, a nossa formadora, fez-nos uma abordagem acerca dos principais aspetos que caraterizam o país, e os pressupostos em que assenta o sistema de educativo Finlandês.

O Governo atribui grande importância ao ensino, defendendo uma educação inclusiva e gratuita a que todos têm acesso independentemente da sua condição social. As crianças têm direito a usufruírem gratuitamente de cuidados de saúde, lanches, transportes e material escolar desde a escolaridade básica até ao secundário. As universidades são igualmente gratuitas e os alunos ainda podem recorrer a ajudas do Governo para alimentação e dormidas. As escolas, geridas pelos Municípios, são responsáveis pela escolha dos seus professores que têm a liberdade para escolherem métodos de trabalho com que mais se identificam e desta forma cumprirem o currículo nacional. A dedicação e a formação dos professores são importantes para o sucesso do país na educação.

Segundo a Formadora se quisermos definir a Finlândia numa palavra, seria: “Trust” existe uma grande confiança no Governo, nas pessoas e nos professores.

A escolha das escolas para cada criança é feita pelos Municípios, privilegiando as que ficam mais perto da sua residência. As avaliações são feitas de várias formas, por exemplo: testes, projetos ou apenas verbalmente, mediante a decisão de cada professor ou até da própria escola. No fim do secundário é realizado um teste a nível nacional. No ensino vocacional são avaliados pelas competências. Não existem Rankings de escolas o que retira dos professores e dos alunos o peso de se trabalhar para resultados quantitativos. Os estudantes estão no centro da aprendizagem e os professores são os facilitadores. Permite-se que descubram o que gostam de fazer e no que são bons, privilegiam o desenvolvimento de competências futuras como é o caso da utilização das novas tecnologias.



Learning Outside the Classroom, o tema da Formação remete-nos para uma aprendizagem que privilegia o ensino fora das quatro paredes da sala de aula. Sendo eu Educadora de Infância, penso que pelo fato de não ter um currículo tão estruturado como nos outros níveis de ensino facilita a planificação de atividades em espaços exteriores. A formação ajudou-me a ter uma perspetiva diferente sobre o ensino Outdoor, todos os espaços exteriores podem ser utilizados como espaços de aprendizagem, tal como nos transmitiu a Formadora Mia: “Every place is a learning place”.

Aproveito para destacar os objetivos, contemplados no Currículo básico Nacional na Finlândia acerca dos benefícios do ensino Outdoor:

- Permite fortalecer a ligação das crianças com a Natureza;

- Conhecimento e compreensão do meio ambiente e dos seus fenómenos;

- Compreender o ser humano como parte da natureza e dependente da vitalidade do ecossistema;

- Um modo de vida sustentável;

- Oferecer a possibilidade para explorar, ser curioso, admirar e apreciar a natureza.

Para além dos aspetos mencionados anteriormente, o ensino Outdoor também faz com que as crianças ganhem imunidades e, por conseguinte, ficam menos vezes doentes o que beneficia a vida familiar.

Todos os espaços podem ser aproveitados para promover aprendizagens, por exemplo jardins, museus, bibliotecas, temos de ter em conta que as atividades devem ser bem planificadas, com os objetivos bem definidos, que as saídas devem ser feitas em segurança e para tal temos de ter os recursos quer humanos, quer materiais ao nosso dispor.

Vários estudos realizados mundialmente, apontam para que as atividades realizadas no exterior acalmam a mente, são promotoras do desenvolvimento das habilidades motoras, fortalecem as relações socias e os resultados académicos também melhoram. Quanto maiores forem os momentos ao ar livre o bem-estar do aluno e dos professores também aumenta.

É notória a relação forte e o respeito que todos mantêm com a Natureza. Sendo este um espaço de aprendizagem privilegiado, todos podem usufruir, mas também têm a responsabilidade de cuidar e preservar, aspeto este que é incutido nas crianças desde cedo.


A filosofia de que tudo é de todos e que todos podem usufruir de tudo, obriga a que cada um respeite e cuide dos espaços.

Pelo que pude observar durante a estadia em Helsínquia, independentemente das condições atmosféricas, crianças e adultos disfrutam dos espaços ao ar livre. Mesmo nos dias em que nevou viam-se muitas crianças nas ruas, todas equipadas com os fatos térmicos impermeáveis, luvas, gorros e botas (que muitas vezes pareciam difíceis de arrastar), disfrutavam dos parques, brincando na neve, construindo bonecos de neve na companhia de familiares. A mentalidade de sair para a rua, independentemente das condições meteorológicas, já está incutida no dia a dia dos Finlandeses.

Quanto à nossa realidade, em que se os meninos aparecem um pouco mais sujos ao final do dia, ou tenham de andar fora quando está mais frio representa algum receio ou constrangimento por parte de alguns adultos.

Durante a apresentação de alguns trabalhos de grupo falava-se acerca dos benefícios do ensino Outdoor, mas também acerca das dificuldades em implementar este tipo de ensino sobretudo em escolas onde os currículos são menos flexíveis e existem prazos para dar as matérias e notas quantitativas que serão utilizadas para os Rankings. A mentalidade de alguns professores avessos às mudanças também pode ser um entrave quando se fala em alterar metodologias e adotar novas práticas.

Agora há que refletir sobre toda esta experiência e procurar adotar, mediante a nossa realidade e rotinas a melhor forma para pôr em prática atividades em que se pratique o Outdoor Learning.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A primeira experiência fora de Portugal

Viagem a San Marino

Erasmus completato con successo!