Learning Outside the Classroom in Finland – 1 a 6 de abril

by Jacinta Valente


Hoje é o último dia de uma semana de formação em mobilidade de Erasmus na cidade de Helsínquia, Finlândia. Eu, a educadora Cristina Serpa e a professora Sónia Abrantes, viemos até à capital finlandesa aprender mais sobre “outside learning” – aprendizagem no exterior.

É amplamente conhecido que a Finlândia é um país de referência no que toca à educação - as escolas finlandesas estão repetidamente classificadas no topo em diferentes comparações internacionais, nomeadamente no PISA; e também é conhecido que é um país com temperaturas muito baixas, com dias que passam de muito curtos a muito longos ao longo das estações do ano.

Por estes dois motivos, a nossa curiosidade era grande no início desta jornada... O nosso curso começou no dia 1 de abril, 2ª feira, no escritório da Europass Teacher Academy em Helsínquia, com a apresentação do programa e dos participantes. Éramos um grupo de 19 professores de vários países europeus – Grécia, Malta, Espanha, Croácia, Alemanha e Portugal. Os professores eram também de várias áreas, desde educadoras de infância, professores de ensino especial, secundário e também ensino profissional.

Foi assim a uma plateia muito variada que a nossa formadora Mia, começou a apresentar o curso – Learning Outside the Classroom in Finland with aid of the ICT tools.

 

Então, qual é o segredo da Finlândia?

Pelo que conseguimos perceber, tem muito a ver com as suas características culturais que asseguram uma educação de qualidade para todos.

- Educação é uma prioridade nacional – a educação é altamente valorizada na Finlândia, pois acreditam que é o motor do seu crescimento. Além disso existe confiança na educação - no sistema, nos programas, nos professores e na sua capacidade de formar e preparar a próxima geração.

- Formação superior dos professores – A formação de professores é ainda muito popular e a área é muito respeitada. Segundo a nossa formadora, no curso de educação básica na Universidade de Helsínquia apenas entram 10% dos candidatos. Para além da classificação do ensino secundário (e exames nacionais), os candidatos são também entrevistados sobre as suas motivações para a profissão e o que pretendem acrescentar na educação na Finlândia. Todos os professores têm de ter um diploma de mestrado.

- Os professores podem escolher os seus métodos de ensino – Por regra, os professores do 1º ao 6º ano, ensinam todas as disciplinas. A partir do 7º ano, os professores tornam-se especializados em matérias. Existem currículos e programas obrigatórios por ano escolar, mas os professores têm liberdade de escolher os seus métodos de ensino e os materiais de aprendizagem. 

- Princípio da escola pública local – em regra, as crianças e jovens frequentam a escola mais próxima da sua residência. Não existem escolas privadas na Finlândia (porque não há necessidade) e os pais não podem escolher a escola que os seus filhos irão frequentar. O objetivo é que não haja diferenciação segundo o status social das famílias (porque também não há bairros de habitações sociais), e que crianças de diferentes níveis sociais cresçam juntas, com as mesmas oportunidades. (Na prática, falamos com uma diretora de escola e percebemos que nem todas as zonas e escolas são iguais.) As escolas são geridas pelos Municípios e não pelo governo nacional. Os diretores têm autonomia para o seu projeto educativo e para recrutar a sua equipa, normalmente com base num orçamento anual (definido com base no nº de crianças, mas não só).

 - Incentivo em vez de controle – A educação na Finlândia não se baseia na classificação do desempenho, nem na concorrência entre alunos. Não existem testes/ provas nacionais até ao final do percurso escolar (12º no). O ensino baseia-se em descobrir os métodos de aprendizagem adequados a cada aluno e em dar suporte aos que enfrentam desafios de aprendizagem. Não existem inspeções escolares, nem os professores são controlados. Existe sim, uma cultura de responsabilidade, confiança e autonomia – quer nos professores, quer nos alunos, para que todos deem o seu melhor.

- Aprendizagem baseada em fenómenos / projetos – Tal como em Portugal é cada vez mais frequente, na Finlândia os professores orientam os alunos na sua aprendizagem, promovendo projetos para tornar os alunos ativos na aquisição do seu conhecimento e desenvolver competências de interação e comunicação, de resolução de problemas e procura de soluções. Um dos exemplos que a nossa formadora nos passou foi um projeto desenvolvido pelas escolas primárias para estudar o fenómeno do trânsito na região de Helsínquia, tendo os alunos estudado as horas de maior trânsito e interagido com a Câmara Municipal para perceber as restrições de organização da cidade que contribuíram para o aumento do trânsito.

- Fora da sala e para o mundo - O currículo nacional destaca o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem. Além da sala de aula convencional, o ensino é ministrado fora da sala de aula, contrariando uma mentalidade que a aprendizagem de alunos só acontece quando estes estão sentados, calados a ouvir o professor. Na Finlândia as aulas são ministradas com frequência ao ar livre, valorizando a natureza e os seus bosques, são feitas visitas a museus, empresas, etc. Os jogos, ambientes virtuais e a tecnologia estão cada vez mais presentes. É valorizado a diversidade nos métodos de ensino. A diretora de escola com quem falámos dizia-nos que quase por magia, um aluno que não consegue estar concentrado dentro de uma sala de aula, é o aluno mais atento, quando estão no bosque. Durante a nossa semana em Helsínquia, pudemos ver com muita frequência grupos de crianças e jovens, em turma, pelos diversos espaços da cidade, comprovando que eles não ficam fechados na escola – mesmo com temperaturas negativas.

Estes são alguns dos fatores que fazem da Finlândia uma referência.


O curso de formação que frequentámos procurou mostrar-nos com atividades práticas como fomentar as aprendizagens fora da sala, pelo que foram várias as atividades que fizemos na cidade.

A minha favorita foi a exploração da biblioteca de Helsínquia: Oodi. É um espaço extraordinário, super agradável e que reflete bem a visão dos Finlandeses no acesso ao conhecimento e à educação para todos.


Distribuída por três pisos completamente diferentes, qualquer pessoa pode-se registar como membro da Biblioteca e ter acesso a todos os recursos, espaços e atividades desenvolvidas.

O primeiro piso é de acolhimento, com um café/ restaurante, mesas (com tabuleiros de xadrez) e sofás. Os visitantes podem perguntar sobre as atividades, alugar equipamentos de desporto (para usar na praça em frente) e aprender sobre a arquitetura da biblioteca.

O segundo piso é para as pessoas usarem para trabalho diverso. Existem salas de reuniões, salas individuais, espaços confortáveis para trabalhar, equipamentos e tecnologia que podem ser usados – como impressoras 3D, impressoras gráficas, cortador de vinil, máquinas de cozer (sim, máquinas de cozer), máquinas de estampagem, computadores, instrumentos musicais, um estúdio de gravação, salas de gamming e até uma cozinha comunitária!! A Biblioteca organiza workshops para as pessoas aprenderem a usar estes equipamentos.

O terceiro piso é o mais semelhante a uma biblioteca, com estantes de livros, DVDs e jogos de tabuleiro. Mas com espaços muito confortáveis e uma luz natural que nos faz sentir muito bem. Tem também espaços dedicados às crianças muito bem pensados.

O mais impressionante é que a biblioteca estava cheia de gente ativa, a estudar, trabalhar, conviver e aprender... de todas as idades e muitas nacionalidades. Vimos grupos de crianças, vimos reuniões de trabalho de adultos, vimos jovens sentados a ler e a conviver, vimos pessoas a trabalhar individualmente... tudo num espaço muito agradável em termos de luz, dimensão e barulho – embora as pessoas estivessem a falar normalmente, estávamos num ambiente de silêncio. A nossa formadora explicou-nos que tinha a ver com a construção que foi preparada para reduzir a propagação do som.

 

Devo também acrescentar que percebemos que a educação na Finlândia não é perfeita e tem também muitas das fragilidades com que nos deparamos diariamente.

Na 3ª feira, acordamos com a notícia que uma criança de 12 anos levou uma arma para a escola e atirou sobre 3 colegas (um dos quais faleceu de imediato), numa escola não muito longe de Helsínquia. É a 3ª vez que tal acontece na Finlândia.

Tivemos também a oportunidade de visitar uma escola primária nos arredores de Helsínquia e conversar com a diretora dessa escola e ela debate-se com alunos de 8/10 anos deprimidos, uso excessivo de telemóvel, bullying entre alunos, ausência dos pais, entre outros problemas que também conhecemos.

 

Estes são apenas alguns pontos que ressalto da nossa semana em Helsínquia, mas muito mais haveria para contar, pois aprendemos com todos os nossos sentidos ao viver a cultura finlandesa durante alguns dias e também pela partilha com os restantes professores europeus que tornaram os nossos dias ainda mais ricos e divertidos. 

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